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Caminho através das palavras

Uma professora de escrita criativa disse uma vez que, por ser um trabalho solitário, o escritor normalmente acaba, dentro de sua bolha que só comporta ele mesmo e seu texto, achando que tudo o que escreve é: ou a pior coisa já escrita no mundo ou a melhor coisa já escrita no mundo. Normalmente, não é nenhuma das duas.

Esse comentário me fez perceber muitas coisas e mudar a forma com que eu olho o meu próprio texto. Eu acredito que, para sempre, vou sentir aquela vergonha violenta toda vez que ler algo que escrevi e achar ruim, mas estou aprendendo que ela é necessária para evoluir. Como melhorar se você não lê e analisa seu próprio trabalho? Não existe outra maneira.

Estou na terceira versão do meu romance e, no momento, minha missão é melhorar ele estruturalmente, resolver plot holes e dar personalidade para os personagens que, nas primeiras versões, estavam lá só para cumprir funções e avançar a narrativa. Na próxima versão, quero dar mais atenção para a linguagem e aquela parte essencial de equilibrar o que deve explicado e o que não deve, o que precisa ser colocado e o que, se colocado, parece que você está chamando o leitor de idiota. Mas, para isso, eu vou precisar colocar um chapéu de editora e crítica e praticamente esquecer que fui eu quem escreveu aquilo. Não é fácil fazer isso, mas é ainda mais difícil manter esse chapéu fora da cabeça quando você está escrevendo e o único objetivo é colocar a história no papel.

Acho que essa separação é a parte mais difícil de escrever. Separar sua parte escritor da sua parte editor, porque as duas não podem funcionar juntas, senão trava o processo. Você precisa estar livre do seu crítico interior se quiser criar, e você precisa se tornar o seu mais letal crítico na hora de editar. Mas esses processos precisam ficar completamente separados, pelo menos para fim, senão eu não funciono.

A parte boa de todo esse processo são as surpresas agradáveis. Às vezes eu me distancio tanto de um texto que, quando volto para ele, encontro coisas que não conseguia ver antes (mesmo tendo sido eu quem escreveu) e consigo, imparcialmente, achar as qualidades daquele trabalho. Isso me faz sentir bem, orgulhosa. Da mesma forma, esse processo também me faz, objetivamente, encontrar os defeitos. E, porque me distanciei o bastante, eles me fazem querer melhorar da próxima vez.

Você não pode comparar o seu começo com o meio ou o fim da jornada de outra pessoa. Não é justo com você mesmo. Mas você pode comparar o que faz agora com o que gostaria de fazer, e isso, eu acredito, é essencial para crescer e encontrar seu próprio caminho.

Eu sei quem eu quero ser e o que eu quero escrever, seguindo o conselho do Neil Gaiman, eu imagino isso como um local onde devo ir e cada texto que escrevo deve ser um passo na direção certo. Não quero tropeçar, não quero me perder, não quero andar para trás… mas talvez alguma dessas coisas aconteça, talvez todas elas aconteçam. O importante  é não se desistir e ficar em qualquer lugarzinho que pareça confortável, voltar a andar e tentar outras estradas (descobrir atalhos, pedir informações) e acreditar sempre na possibilidade e capacidade encontrar o caminho de volta.

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